Live: analogia de “ao vivo” 3pk46

A live é um mecanismo eficaz no processo de ensino aprendizagem em tempo de pandemia. No entanto, a falta de internet e do dispositivo tecnológico impedem que muitos estudantes usufruam dessa forma de aprender. 2u3s5

21/10/2020 11h00 636j4e



Por Darlise Vaccarin Fadanni 5d1i5a

Professora de Língua Portuguesa e Literatura

Mestranda em Estudos Linguísticos pela UFFS

O mundo vive um tempo obscuro e dolorido. Um ser invisível e mutável invade as vidas humanas sorrateiramente, ferindo e levando vidas, independente de credo, de status social, econômico, político, de grau escolar, de origem étnica, preto ou branco, ou ainda de preferência sexual. O vírus Covid-19 obriga a reclusão social e fecha a maioria das portas, entre elas, as portas das instituições educacionais, escolas, universidades e outras. Porém, o processo de ensino-aprendizagem não pode parar, e, na obrigatoriedade de reinventá-lo, surge a live.

Mecanismo de trabalho via internet, também definida como atividade síncrona, a live está ocupando um espaço significativo no cotidiano da humanidade, principalmente dos professores e estudantes. A live possibilita a visualização da imagem na interação discursiva entre os participantes da aula, por isso, fora da escola, professores e alunos conseguem interagir no processo de ensino-aprendizagem.

Atualmente, bastante usada na fala da humanidade, a live está dentro das casas e das empresas do planeta, na metrópole, na cidade do interior, no meio urbano e rural. Encontra-se significativamente no âmbito educacional. Derivada do inglês, abreviada da palavra “alive”, significando vida, vivo ou viva, existe na interação discursiva online entre as pessoas em aulas ou em reuniões. Até então, desconhecida e distante da realidade do ensino escolar, se transforma em elemento de uso frequente pela possibilidade de o interativo entre professores e alunos, mesmo na distância espacial. Pelo mecanismo, os corpos se encontram, mesmo separados pela tela do dispositivo tecnológico, e interagem discursivamente com a possiblidade de olhar uns aos outros. Um neologismo fortemente atrelado ao vocabulário da língua portuguesa, pronunciado pelos brasileiros e pelos sujeitos do mundo.

Explicado pela sociolinguística e de acordo com Siqueira Filho, Mendes e Lima (2016), o neologismo é a criação linguística de uma palavra a partir de outra já existente ou então de uma expressão sintática recorrente, que se firmam numa dada língua. O neologismo justifica a inovação vocabular, como é o caso da palavra live.  Para Correia e Almeida (2012), é “entendido como a capacidade que o falante possui de alargar o sistema linguístico, de forma consciente, por meio de princípios de abstração e comparação imprevisíveis, mas claramente motivados” (CORREIA;  ALMEIDA, 2012, p.19)

A gramática histórica explica esse fenômeno pelo processo analógico, que  segundo Bagno (2007) “a analogia de fato atua na produção de formas linguísticas novas que, uma vez aceitas pela comunidade de falantes, acabam por substituir as formas antigas” (BAGNO, 2007, p.39).

A live é uma analogia de “ao vivo”, ainda visto na tela da televisão, de forma que registra o evento em tempo real. Normalmente, a expressão aparece grifada nas apresentações de shows musicais, palestras, entrevistas jornalísticas, esportes e outros eventos que acontecem televisionados. Anterior ao período pandêmico, a live vivia na particularidade de algumas pessoas. Porém, em 2020 tem seu tempo de glória, pois se faz presente na rotina da maioria das pessoas deste planeta.

A live, na sua essência e função, interliga os falantes na situação comunicativa, constituindo-se como um produto de interação entre os falantes, facilitando a compreensão do assunto em discussão.  Apresenta a interlocução, entre o emissor e o receptor na busca pela reciprocidade do assunto. Sendo assim, no contexto escolar, a live, na interlocução, apresenta maior expressividade, atingindo com amplitude os propósitos das aulas. É um meio que facilita a socialização do objeto de conhecimento e de estudo, motivada pela conversação entre os sujeitos que estão presentes.

Em tempo de pandemia, o processo de ensino aprendizagem está caracterizado pelo ensino remoto, utilizando-se da tecnologia para de fato acontecer.  Situação, que de forma repentina, de um dia para outro, adquire corpo e poder, inserindo determinantemente a potencialidade tecnológica no contexto educacional. Professores e alunos imersos aos celulares e aos computadores, no intuito de fazer valer o ano letivo, trabalham incessantemente com as alternativas propostas pelo mundo virtual. Distantes fisicamente uns dos outros, encontram na live a possibilidade de uma aula presencial, ao vivo, porém online. Por isso o vocábulo live nunca foi tão pronunciado como agora, em tempo de pandemia, ocupando um espaço tão igual à palavra aula. Live é igual à aula. O professor diz: “Estou em live”. O aluno também diz: “Estou na live de...”, referindo-se a qualquer disciplina ou área do conhecimento. Realidade da segunda década do século XXI, marca na história da humanidade.

A internet , assim como a luz, torna-se necessária e fundamental à vida da humanidade, configurando-se como instrumento de política pública. No Brasil, infelizmente, ainda não é de responsabilidade governamental. Portanto, muitas crianças e adolescentes da educação básica pública não conseguem inserir-se nas lives pela impossibilidade de o a internet e pela falta do material tecnológico, computador ou celular. Nesses casos, o processo ocorre fisicamente, com atividades impressas, enviadas pelos professores às escolas, que viabilizam o material aos estudantes, que não podem usufruir dos benefícios da live.

A inibilidade tecnológica e virtual é a situação problema encontrada entre os estudantes brasileiros, pois o contexto educacional do momento demanda da tecnologia para desenvolver o processo de ensino aprendizagem. É um desafio, de cunho educacional, aos gestores municipais, estaduais e federais responsáveis pela educação pública deste país. Acredito, que programas nacionais, como: do Livro Didático (PNLD) ou de Apoio ao Transporte Escolar (PNAT), devam ser implantados à aquisição de dispositivos tecnológicos, que oportunizam a conexão entre professor e aluno, e de internet, com devida urgência, pelo Ministério da Educação. Isso, a fim de auxiliar secretarias municipais e estaduais de educação na imperiosa demanda. Dessa forma, o ente federado facilita o o dos alunos da escola pública ao processo de ensino aprendizagem remoto e oportuniza sua eficácia, principalmente por inserir as lives nas casas dos estudantes menos favorecidos, que residem nos meios urbanos e também rurais do país.

Por fim, considera-se o vocábulo live como sinônimo de aula, de reunião presencial, porém online, substituindo o “ao vivo” e via internet. Atualmente, um mecanismo importantíssimo no desenvolvimento remoto do processo de ensino aprendizagem. Um neologismo aceito e inserido com leveza no discurso da maioria das pessoas deste planeta.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Gramática histórica: do latim ao português brasileiro. Universidade de Brasília, Brasília 2007.

CASTILHHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – São Paulo: Contexto, 2010.

CORREIA, Margarita; ALMEIDA, Gladis Ma de Barcellos. Neologia em português. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

SIQUEIRA FILHO, Boris Dimitri de; MENDES, Renata Monteiro; LIMA, Sandra Maria Alves de. Neologismo X empréstimo linguístico X estrangeirismo: uma família do barulho. 5º Congresso Internacional Marista de Educação. Recife Pernambuco, 2016.


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