“Adolescência” na Netflix: quando o bullying encontra a solidão 1l2n2


Por Gabriela Bernardi Tandalo 646i32

28/03/2025 17h15 - Atualizado em 28/03/2025 17h26 6i1y3o



A série Adolescência, da Netflix, é um convite para olharmos atentamente para nossos jovens. Ela é um espelho inquietante dos bastidores emocionais da nossa sociedade. Em épocas não muito distantes, a conexão dentro de casa era muito maior: portas abertas, brincar no jardim, ajudar os pais. O que as redes sociais e a internet trouxeram para o mundo nos nossos jovens? 1t255n

Jamie, o protagonista de 13 anos, comete um homicídio, após sofrer ataques virtuais.  Ele é o retrato de um adolescente invisível: alvo de bullying, socialmente isolado e profundamente carente de pertencimento. Mas o que chama atenção é o caminho silencioso que ele percorre até explodir. Um caminho marcado por emojis codificados, discursos de ódio camuflados em “grupos de apoio” e o desejo desesperado de ser visto, aceito, amado.

A série traz o conceito da cultura “incel” que, longe de ser apenas uma tendência online, é o terreno fértil da exclusão emocional. O significado do termo? Descrever um homem sexualmente frustrado. Geralmente, a palavra é usada de uma forma pejorativa. Na cabeça de um adolescente, algo muito forte e pesado.

Essa série retrata um pedido de socorro coletivo. Até onde o bullying virtual pode machucar, acionar gatilhos emocionais e levar nossos jovens? Somente a família tem responsabilidade em situações dessas?  

Você conhece algum adolescente como Jamie? Silencioso. Com o olhar distante. Usando a internet como fuga. Que a horas no quarto sem contato com o mundo externo. Cheio de vivências internas que os pais desconhecem.

Nova série da Netflix "Adolescência" (Foto: Divulgação)

É importante lembrarmos que:

  • - O bullying não é só um trauma que ocorre em idade escolar – é uma ferida que contamina a identidade, seja da criança ou do adolescente. Todos nós já sofremos por alguma ferida da infância produzida por algum comentário maldoso.
  • - A masculinidade tóxica não nasce violenta – ela é construída no silêncio do mundo dos meninos, onde não é possível ser sensível, muito menos chorar.
  • - A ausência de vínculos saudáveis, seja na família, nas amizades ou na escola, gera a busca por qualquer pertencimento, mesmo o mais distorcido ou cruel.

No olhar da Constelação familiar, o que chama a atenção é a relação entre o pai e o avô de Jamie. Um avô possivelmente violento, um pai tentando quebrar o padrão através da supressão de suas emoções e controle da raiva, e um filho cheio de sintomas. Três gerações de homens marcados por silêncios, exigência de força, dureza emocional. Jamie herda, sem saber, essa dor transgeracional. Ele carrega o peso do que não foi dito, do que não foi curado. E explode.

Talvez o maior presente da série seja o convite para vermos o invisível, que na constelação chamamos de Emaranhamentos. Aquilo que ainda precisa ser ressignificado no sistema. Enquanto pais, educadores, terapeutas ou simplesmente humanos, é importante que estejamos mais atentos aos sinais sutis. À linguagem emocional disfarçada. À dor que vira emoji. Porque antes da explosão, sempre houve um pedido de escuta.

Gabriela Bernardi Tandalo 5y4c34

Terapeuta integrativa. Constelação Familiar e Reiki. Psicoterapeuta. Graduada em Psicologia desde 2008. Insta: @gabybernardi.

  @gabybernardi


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